20 de ago. de 2010

O que a escola faz com a tecnologia? E o que a tecnologia faz com a escola?

Este tema foi discutido por Alberto Tornaghi, na edição da revista TV Escola de março/abril de 2010. Segundo Tornaghi (2010), a escola deve deixar que a tecnologia seja um espaço de produção, de exploração, de experimentação e de colaboração para seus alunos. Concordo com Tornaghi e, além de refletir sobre tal assunto, realizo a prática do mesmo na escola em que atuo, uma vez que estamos participando de um projeto piloto "One Laptop Per Child" e utilizando o "XO" na sala de aula. Nesse sentido, percebo que é importante, também, uma boa formação para os professores, uma vez que muitos deles ainda não dominam esta "nova" ferramenta, nem esta "nova" maneira de ensinar... Sendo assim, a tecnologia não deve ser utilizada tão somente em sala de aula, mas fazer parte da vida cotidiana dos docentes e dos alunos, por isso a importância de estimular e proporcionar esta nova cultura nas escolas. 
Para motivar a mudança de atitude dos educadores em relação ao uso da tecnologia, o MEC criou uma nova plataforma de interação: o Portal do Professor e o Portal do Aluno, a saber: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html e http://www.portaldoaluno.org.br, respectivamente. Que tal acessar?


"Começar não é apenas
um tipo de ação. 
É também um estado de espírito, 
um tipo de trabalho, uma atitude,
uma consciência."
Albert Einstein

17 de ago. de 2010

Olimpíadas de Língua Portuguesa - Poetas na escola!

Esse poema, foi criado durante a aula de língua portuguesa de maneira "coletiva"... Todos os alunos da escola Osvaldo Machado, turma 53, deram sugestões, pensaram nas rimas, na quantidade de versos e estrofes e no belo título! Essa atividade foi realizada, em especial, porque estamos participando das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Os alunos da turma 53 estão de parabéns pela bela produção, não acham? ;p

A Ponta internacional...

A praia da Ponta é tradicional
e tem um "dek" sensacional...
Tem também muita pesca de tainha
E se tu ajudar ganha "umazinha".

Há, ainda, a célebre "Caiada"
Uma pedra que recebe visitas das pessoas
que fazem dessa atração, uma emoção,
"dando mortal" dentro dos vasto marzão...

Na praia da Ponta têm dois mendigos
que se chamam Fino e Timbalada
E quando os dois se juntam
é só pra dar risada!

Durante o inverno frio
Migram pra cá os pinguins...
Que fazem a alegria do povo...
E quando eles se afastam é o verão chegando de novo!

No verão a emoção é geral!
Tem brasileiro e pessoas de país internacional...
Aqui na Ponta temos beleza natural
Sem deixar de falar, é claro, do "manguezal"!

9 de ago. de 2010

Olimpíadas de Língua Portuguesa... Poetas na escola!

Esse poema, foi criado durante a aula de língua portuguesa de maneira "coletiva"... Todos os alunos da escola Osvaldo Machado, turma 52, deram sugestões, pensaram nas rimas, na quantidade de versos e estrofes e no belo título! Essa atividade foi realizada, em especial, porque estamos participando das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Os alunos da turma 52 estão de parabéns pela bela produção, não acham? ;p

Beleza natural...



Nesse lugar especial
Tem uma praia legal...
Nela há muitos pescadores
Que pescam tainha, manezinho, só não pescam bacalhau!


Também há muitos passarinhos
Azulão, pardal, canarinho e João de barro.
Tudo isso completa
A beleza da natureza nesse pequenino bairro.

Quando cai a chuva
Todo mundo se recolhe
Mas se o sol aparece
Pássaros e pessoas se resplandecem!


Além disso, têm as brincadeiras...
As pipas desenhando o céu,
Fazem estrepolia
E enchem o bairro todo de alegria!

Olimpíadas de Língua Portuguesa... Poetas na escola!

Esse poema, foi criado na sala ambiete de língua portuguesa de maneira "coletiva"... Todos os alunos da  EBIAS, turma 51, deram sugestões, pensaram nas rimas, na quantidade de versos e estrofes e no belo título!


Essa atividade foi realizada, em especial, porque estamos participando das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Os alunos da turma 51 estão de parabéns pela bela produção, não acham? ;p

A Bela Cachoeira

Nesse lugarejo a natureza se destaca
O mangue chama a atenção
Com seus peixes, siri e berbigão
O mangue é uma grande atração!

As árvores simbolizam a esperança
Nela repousam belos pássaros
Quem com seus cantos
Iluminam todas as crianças...


O mar da Cachoeira é esbelto,
Poético e inspira toda gente...
Não só pelas ondas “dançarinas”...
Mas pelos peixes e seu sol poente!


Da natureza presente...
Céu azul, flores e animais,
Devemos cuidar e amar...
Para que no nosso lugar não falte passarinhos a voar!

4 de ago. de 2010

Olimpíadas de Língua Portuguesa... poetas na escola!

Esse poema, foi criado na sala ambiete de língua portuguesa de maneira "coletiva"... Todos os alunos da EBIAS, turma 52, deram sugestões, pensaram nas rimas, na quantidade de versos e estrofes e no belo título!
Essa atividade foi realizada, em especial, porque estamos participando das Olimpíadas de Língua Portuguesa. Os alunos da turma 52 estão de parabéns pela bela produção, não acham?  ;p

Cidadezinha pacata

Aqui na Cachoeira
O mar cerca as beiras
E as pessoas  faceiras
Vão pescar e contar asneiras...

O verde das lindas árvores
Contrasta com o céu azul
E as pipas voando alto
Até tiram a nossa atenção do asfalto.

A nossa comunidade
É a melhor da cidade
Se ajuda e se diverte
Demonstrando muita amizade!

Além de tudo isso,
A Cachoeira tem um belo manguezal,
Lindo e visitado por turistas
O que proporciona muito alto astral!

3 de ago. de 2010

Olimpíadas de Língua Portuguesa

Memórias Literárias...textos recomendados

A saga da Nhecolândia

Roberto de Oliveira Campos


Surgiu então a Nhecolândia, cujas peripécias eu ouvia, fascinado, como criança, nos serões à luz do lampião, defendendo-me dos mosquitos, pólvoras e mutucas na Fazenda Alegria.

[... ]

Meu avô, Vicente Alexandre de Campos, ali se instalou para fundar uma fazenda - o retiro Paraíso. As terras baixas da Nhecolândia, nome dado em homenagem ao desbravador, abrangiam cerca de 23,5 mil quilômetros quadrados, mais de um sexto dos 140 mil quilômetros quadrados que constituem o Pantanal mato-grossense. Nheco comandou o que, por assim dizer, se poderia chamar uma grande operação comunitária, fazendo doações de terras aos que se animassem a participar da rude aventura.

[...]

Na minha ótica de primeira infância, o Pantanal me parecia mais perigoso que belo. Tinha medo de cobras (a jararaca, a cascavel e a sucuri) e das onças (parda e pintada), então abundantes nas várzeas e capões. A suprema forma de coragem era a caçada de onça com zagaia. Também levara o susto da piranha, quando entrei desprevenido na baia adjacente à Fazenda Alegria. Quase perdi o dedão do pé direito. Era infernal o incômodo dos mosquitos, os pólvoras e as mutucas. Nas longas viagens de carros de boi, comia-se carne-seca e farinha de mandioca, ou assava-se um pacu pescado no rio. Bebia-se de manhã o "tererê", o guaraná ralado em língua de pirarucu. De vez em quando se matava um boi para o churrasco. O pacu era o peixe favorito e democrático, pois de fácil pesca.

- Pacuzão para os ricos, pacuzinho para os pobres, pacu p'ra nós todos, era o refrão dos vaqueiros.

As bebidas eram o guaraná ralado e o indefectível chimarrão.

[...]

As belezas do Pantanal, com seus corixos, baías e várzeas, que no começo das chuvas pareciam jardins formais, com riqueza de flora e fauna, só entraria na minha percepção trinta anos mais tarde, quando voltei, como superintendente do BNDE, ciceroneando uma turma de banqueiros do Eximbank, de Washington.

Roberto de Oliveira Campos. A lanterna na popa. Rio de janeiro, Topbooks, 1994, pp. 131-133.


"A vida não é a que a gente viveu,
e sim a que a gente recorda,
e como recorda para contá-la".

Gabriel Garcia Márquez. Viver para contar
(Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Caderno do Professor. 2008)

Oímpíadas de Língua Portuguesa

Memórias Literárias...textos recomendados

A ameixeira-do-japão

Érico Verissimo

Em 1912 chegou-me, primeiro através dos comentários dos mais velhos e depois nas páginas das revistas do Rio de Janeiro, a notícia do naufrágio do Titaníc. Profundamente comovido, sentei-me na borda do canteiro onde estava plantada a ameixeira-do-japão e ali fiquei, calado e imóvel, tentando recriar no espírito a horrível tragédia que havia devorado mais de mil vidas humanas. Eu "via" o transatlântico afundando no negror gelado da noite e do mar: o pequeno grupo de passageiros na proa (ou na popa?) cantando um hino religioso - "Mais perto quero estar, ó meu Deus, de ti!". E me fazia perguntas para as quais não encontrava resposta. Se estava no poder de Deus ter evitado a catástrofe, por que Ele não o fizera? Afinal de contas, que queria de nós o Supremo Arquiteto do Universo, que, segundo um símbolo maçônico, tinha o olho triangular? Eu me imaginava a bordo do transatlântico na noite fatal. Via o enorme iceberg no meio do oceano e o paquete aproximar-se dele, inescapavelmente. Creio que naquela noite tive um pesadelo em que uma montanha de gelo crescia diante de meu pavor.


[...]


Pouco mais de um ano após essa tragédia marítima, eu seria testemunha dum dramático incidente ocorrido ali mesmo na nossa cidade.


Em fins de 1913 um tenente do Exército Nacional recém"chegado a Cruz Alta foi proposto por um colega de armas para sócio do Clube Comercial, baluarte da burguesia local. Não sei por que motivo não foi aceito. O fato causou sensação na cidade. Falou-se em represálias da parte da guarnição federal contra a sociedade. Nada, porém, aconteceu. Chegou dezembro, os jasminsdo-cabo floresceram no nosso pequeno jardim. Seu perfume era para mim o prenúncio de acontecimentos agradáveis: o meu aniversário (muitos presentes), o Natal (idem) e finalmente as férias de verão.


Os membros de nossa "melhor sociedade" esperavam com alvoroço o reveillon do Comercial. As mulheres mandavam fazer vestidos, compravam sapatos, preparavam as suas jóias, discutiam penteados. Os homens tiravam dos guarda-roupas seus smokings recendentes a naftalina e mandavam limpá-las e passá-las a ferro. Havia no ar, em estado quase palpável, uma expectativa alegre. Chegou finalmente a noite de 31 de dezembro. Uma banda de música, como de costume, foi contratada para tocar no baile. Começaria inteira, na hora da polonaise inicial, e depois seria reduzida ao que era conhecido como "um terno", que ficaria marcando o compasso das danças até o final da festa. O grande momento seria à meia-noite, hora em que o ano de 1914 entraria festivamente ao som de canções, gritos, vivas, abraços, beijos,votos, esperanças, frenéticos atropelos...


Meu irmão e eu obtivemos permissão de nossos pais para ir "espiar" o baile, confiados à guarda de D. Afonsina Masson, mãe de nossa vizinha D. Zaíra.Tínhamos uma grande afeição por essa senhora de cabelos grisalhos, católica fervorosa, suave de voz e gestos. De nosso canto, no vestíbulo do clube, junto da porta do salão de festas, vimos nosso pai marcar a polonaise - bem como faria o dr. Rodrigo Cambará no Clube Comercial de Santa Fé, numa cena do romance que eu iria escrever quase quarenta anos mais tarde. Sebastião Verissimo, que ostentava um cravo branco na botoeira de seu smoking, pareceu-me o "dono da festa".


Depois da polonaise começaram as danças. Meus olhos percorriam o salão, viam as mães de família sentadas nas cadeiras, ao longo das quatro paredes, dizendo-se segredinhos por trás dos leques, olhando com orgulho, apreensão ou esperança para as filhas casadouras que valsavam com alguns dos "bons partidos” da cidade. Uma atmosfera perfumada enchia o recinto iluminado.


Muitos olhavam repetidamente para seus relógios, esperando impacientes o fim do ano. Longe, nos bairros pobres estouravam foguetes prematuros. E eis que, quando os músicos fizeram uma pausa, ouviu-se um tiroteio cerrado e próximo, identificado pelos entendidos como produzido por armas de guerra. Balas começaram a zunir por cima das cabeças das pessoas que se encontravam na área descoberta do clube. Os que olharam para os fundos do terreno da sociedade que davam para outra rua, viram o clarão das detonações. Os projéteis cravavam-se nas paredes posteriores do edifício, estilhaçavam vidraças. Gerou-se então o pânico. Os homens e as mulheres que estavam na área compreenderam que o Comercial estava sendo alvo de um ataque á mão armada. A confusão se generalizou, começaram os atropelamentos, mulheres gritavam, algumas desmaiavam, as pessoas que caíam ao chão eram pisoteadas pelas que fugiam às cegas. A gritaria era assustadora. Vi um homem atirar-se duma das sacadas fronteiras do edifício, caindo sentado na calçada. Outros o imitaram. Meu coração começou a bater mais forte, ao ritmo do medo. D. Afonsina, segurando nossas mãos, rompeu a correr escadas abaixo, enquanto murmurava uma prece, e fomos buscar refúgio numa casa da vizinhança. Pernas frouxas, o coração na garganta, mas nem por isso menos curioso, aproximei-me duma janela e por uma fresta em suas cortinas fiquei olhando a fachada do Comercial. Vi um homem com a mão ensangüentada, uma dama gordíssima, muito conhecida na nossa comunidade, caminhando descabelada e manca, pois tinha perdido no entrevero um de seus sapatos. Pessoas continuavam a saltar das sacadas.


O tiroteio durou mais alguns minutos. Em breve já se sabia que os assaltantes eram soldados do Regimento de Infantaria local, comandados por um tenente que os embriagara antes de levá-los ao criminoso ataque. Horas mais tarde chegou-nos a notícia de que o delegado de polícia, Antoninho Pereira, descera até o fundo do clube para averiguar do que se tratava e fora assassinado com um balaço de Mauser. Ouvi uma voz dizer na penumbra daquela sala onde estávamos refugiados: "É o fim do mundo!". Pensei então nos meus pais. Que lhes teria acontecido?


Terminado o tiroteio, o tenente marchou com seus comandados até à frente do edifício do clube, como se quisesse invadir-lhe o recinto.


Sebastião Veríssimo postou-se no alto da escada que levava ao vestíbulo e, engasgado de indignação, dirigindo-se ao oficial e seus comandados, bradou: "Corja de covardes e canalhas! Vocês só têm coragem para espingardear mulheres, velhos e homens desarmados!". Os poucos varões que haviam permanecido dentro do clube arrastaram meu pai para dentro do prédio. O tenente, depois de gritar bravatas, levou seus soldados, rua do Comércio acima, numa formatura que pouco ou nada tinha de militar.


Nenhuma das pessoas presentes ao baile foi atingida pelas balas, mas muita gente se feriu no atropelo. Várias mulheres tiveram ataques de nervos.


Era já madrugada quando meu irmão e eu chegávamos à nossa casa. D. Bega, que arrumava as camas, murmurava: "É melhor a gente ir viver na campanha, onde essas barbaridades não acontecem". O que nenhum de nós sabia era que ela viveria o tempo suficiente para ter notícia de duas guerras mundiais, sendo que a segunda custaria a vida de 30 milhões de seres humanos, dos tempos de concentração e extermínio nazistas, do massacre dos judeus e dos bombardeios de Dresden, Hiroshima e Nagasaki.


Érico Veríssimo, Solo de clarineta. 20ª ed. São Paulo, Companhia das Letras, v. 1,2005, pp. 106-109.

Olimpíadas de Língua Portuguesa

Memórias Literárias...textos recomendados

Meus tempos de criança

Rostand Paraíso

Pulávamos os muros e ganhávamos os quintais das casas vizinhas, enormes e cheias de fruteiras e de toda a sorte de animais, gatos, cachorros, galinhas, patos, marrecos e outros mais. Chupando mangas, gostosas mangas, mangas-espada, mangas-rosa e manguitos, esses quase sempre os mais saborosos, dividíamos os times e organizávamos as peladas de fundo de quintal que exigiam grande malabarismo de nossa parte, com as frondosas árvores para driblar e grandes irregularidades no terreno para contornar.

Usávamos "bolas de meias", preparadas por nós mesmos com papel de jornal compactado e colocado dentro de uma meia de mulher, mas já começávamos a usar bolas de borrachas e as "bolas-de-pito", que eram bolas de couro, com pito para fora e que tínhamos o cuidado de envergar para dentro, para evitar arranhaduras.

Gostosas, memoráveis tardes que se prolongavam até a noitinha, parando-se apenas quando não havia mais sol e quando não podíamos mais ignorar os gritos que vinham de nossa casa, para tomar banho, mudar de roupa e ir jantar.

As mesmas misteriosas ordens faziam-nos começar a desengavetar nossos times de botão para a temporada que iria se iniciar. Os botões eram polidos e engraxados.

Descobríamos, nos botões das capas e dos jaquetões e, também, nas tampas de remédios, promissores craques. Nossos pais começavam a estranhar, sem encontrar qualquer explicação para fato, o desaparecimento das tampas dos xaropes e dos botões das roupas. Esses craques em potencial, novos valores que surgiam, eram devidamente preparados e passávamos dias a lixá-los e, para lhes dar mais peso e maior aderência à mesa, a enchê-los com parafina derretida. Trabalho que levava às vezes algumas semanas, os novos craques sendo testados exaustivamente até que nos déssemos por satisfeitos e os considerássemos prontos e aprovados para as grandes competições pela frente.

Os botões de chifre, preparados pelos presos da Casa de Detenção, onde íamos comprá-los, começavam, pela sua robustez e pela potência de seus chutes, a ganhar nossa preferência. Não gostávamos, porém, daqueles botões que vinham do Sul, de plástico, todos iguais, diferençando-se uns dos outros apenas pelas "camisas" que traziam coladas sobre si, com as cores dos clubes cariocas. Preferíamos, nós mesmos, pregar as cores do nosso time preferido, no meu caso o Santa Cruz.

Cada botão ganhava seu nome, Perácio, Leônidas, Patesko, Pitota, Sidinho, Siduca... botões que já não tenho mais, desaparecidos misteriosamente ao longo do tempo. Meu ponta-esquerda, Tarzan, que tantas alegrias me deu, com suas arrancadas para o campo adversário e com seus mirabolantes gols, que fim terá levado?

Preferíamos usar as bolas de farinha, arredondadas cuidadosamente na palma da mão e que permitiam um bom controle, correndo menos que as de miolo de pão e não tanto quanto as de borracha.

Dentro daquelas regras que adotávamos e que permitiam que continuássemos a jogar enquanto não perdêssemos o controle da bola, éramos obrigados, quando nos sentíamos em condições de tentar o chute a gol, a avisar o adversário: "Defenda-se!" ou "Prepare-se!", dando tempo a que ele posicionasse melhor o seu goleiro e puxasse, para junto dele, os beques, geralmente bem altos, com a finalidade de dificultar o chute rasteiro.

As partidas eram irradiadas por um de nós, ao estilo de José Renato, o famoso locutor esportivo da PRA-8, e os gols, quando convertidos, eram gritados histericamente, incomodando toda a vizinhança.

Rostand Paraíso. Antes o tempo apague... 2ª ed. Recife, Comunicarte, 1996, pp. 131-132

Olimpíadas de Língua Portuguesa

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Histórias da velha Arigó

Ariadne Araújo



O causo que eu vou contar agora mudou a minha vida para sempre. E da minha família também. Até aquela época, com apenas oito anos de idade, eu vivia uma vida calma numa pequena cidade de serra de nome Baturité, no meu Ceará. Eu era uma meninota cheia de saúde, alegre e festejada por todos pela cara de anjo que Deus me deu com olhos azuis e um cabelo louro cacheado. Mas meu pai, um agricultor da região, caiu em desgraça. De repente, perdeu toda a safra com a seca que, de tempos em tempos, expulsava gente para a Capital ou outras regiões do País. Naquele ano, nos idos de 1910, depois de mais um prejuízo, ele resolveu que chegara a nossa vez de ir embora.

O destino escolhido era o distante Acre, na fronteira do Brasil com outros dois países, a Bolívia e o Peru. Igual ao de milhares de outros nordestinos na mesma situação, dispostos a arriscar tudo ou nada no Norte do País, nas imensidões e perigos da floresta Amazônica.

De tão pequena, muita coisa perdeu-se na minha memória. Mas alguns episódios nunca mais vão se apagar. O dia da partida, por exemplo. No antigo porto de Fortaleza, no bairro por nome Iracema, a gente tinha a imensa visão do mar e, lá longe, da grande embarcação que nos levaria para longe. Mas, do alto da ponte de ferro onde esperávamos o embarque, era difícil imaginar de que forma chegaríamos até o navio, cujo apito alto mandava o aviso nervoso de que já era tempo de partir. Mas logo, logo saberíamos a resposta.

Com o apito, o negócio era apressar a partida. Os adultos desciam por conta própria até o bote que nos levaria ao navio. Mas, na nossa vez, o tratamento era o mesmo dado às cargas. Para não perder tempo, cada um de nós, pequeninos, era jogado da ponte metálica para o bote onde os pais e familiares tratavam de segurar o vôo ainda no ar.

Mas, antes da minha vez, o arremesso de uma criança não deu certo. No bote, o homem não conseguiu alcançá-lo a tempo e o menino acabou batendo a cabeça e caindo no mar.

Morreu na hora. Diante de nós, em meio ao terror daquela cena, as ondas gigantes mostravam que o risco de morte estava apenas começando. .

Nos interiores da Amazônia, meu pai foi trabalhar como seringueiro, entrando pelo território da Bolívia, tirando o sustento da extração do leite branco das seringueiras, as enormes árvores de onde se tirava o látex para fazer a borracha. Nossa família foi morar nas margens de um igarapé. No meio das árvores, da vida na selva, a gente sabia que havia perigos por todos os lados. Um deles eram as patrulhas de bolivianos que andavam na área expulsando os brasileiros. Uma noite, nós já estávamos todos dormindo, um desses grupos chegou. No comando dessa patrulha, uma mulher boliviana.

A notícia era que onde eles passavam era morte certa. Mas, se isso era mesmo verdade, naquela noite fomos salvos por uma espécie de milagre. Armas nas mãos, a patrulha prendeu toda a minha família, mas a chefe me viu e se encantou comigo, com meu cabelo loiro, com meus olhos azuis, algo nunca visto por aquelas bandas, naqueles tempos. Ela perguntou o meu nome, passou a mão sobre minha cabeça e disse ao meu pai que me levasse dali para o mais longe possível. Depois, foi embora sem nos fazer mal algum.

Lembro que foi exatamente isso que meu pai fez. No dia seguinte, cedo da manhã, a família fez a mudança. Fomos morar numa área habitada por muitos outros brasileiros, já dentro do território do Brasil, onde estaríamos em segurança. Muitos anos mais tarde, quando meu pai morreu, eu, já adulta, voltei para a minha terra de nascença. Mas nunca poderia esquecer estas coisas que eu conto agora para os meus netos. Uma história cheia de riscos e de aventuras. A história da minha vida. Da minha família. Também dos primeiros trabalhadores que povoaram a Amazônia brasileira no começo do século XX.

Texto de Ariadne Araújo, jornalista cearense, escrito com base no depoimento de Edilberto Cavalcanti Reis, neto de Alice Augusta Peixoto Cavalcante, narradora-personagem dessa história.

Olimpíadas de Língua Portuguesa

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Transplante de menina


Tatíana Belínky



[...] Depois do almoço, continuávamos o nosso turismo carioca. Papai e mamãe, mais o primo - feliz proprietário de uma "baratinha" - nos levavam, todos empilhados, a passear pela cidade do Rio de janeiro. E foi assim que ficamos conhecendo o Morro da Urca e o Pão de Açúcar - ai, que emoção - pelo funicular, o "bondinho" pendurado entre aqueles enormes rochedos. E de onde se descortinava uma vista empolgante, só superada pela paisagem de tirar ainda mais o fôlego que se estendeu diante de nossos olhos, quando subimos - passageiros de outro trenzinho incrível, quase vertical - ao alto do Corcovado. Ali ainda não se erguia a estátua do Cristo Redentor, que é hoje o cartão-postal do Rio de janeiro. Mas me parece que o panorama era, por estranho que pareça, bem mais "divino" ao natural, sem ela.

Fomos passear também na Gávea e na Avenida Niemeyer, ainda bastante deserta, e na Tijuca, com a sua floresta e a sua linda Cascatinha. "Cascatinha", por sinal, era o nome da cerveja que papai tomava com muito gosto, enquanto nós, crianças, nos amarrávamos num refrigerante incrível que tinha o estranho nome de Guaraná.

Não deixamos de passear pelo centro da cidade, na elegantíssima Rua do Ouvidor, e na muito chique Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal e suas escadarias, com seus bares e sorveterias na calçada. E, claro, na Avenida Rio Branco, reta, larga, e imponente, embicando no cais do porto, por onde chegamos ao Brasil pela primeira vez.

E foi nessa avenida Rio Branco que tivemos a nossa primeira impressão - e que impressão! - do carnaval brasileiro. Eu já tinha ouvido falar em carnaval: na Europa, era famoso o carnaval de Nice, na França, com a sua decantada batalha de flores; e o carnaval de Veneza, mais exuberante, tradicional, com gente fantasiada e mascarada dançando e cantando nas ruas. E havia também os luxuosos, e acho que "comportados", bailes de máscaras, em muitas capitais européias. Eu já ouvira falar em fasching, carnevale, Mardi Gras - vagamente. Mas o que eu vi, o que nós vimos, no Rio de janeiro, não se parecia com nada que eu pudesse sequer imaginar nos meus sonhos mais desvairados.

Aquelas multidões enchendo toda a avenida, aquele "corso" - o desfile interminável e lento de carros, pára-choque com pára-choque, capotas arriadas, apinhados de gente fantasiada e animadíssima. Todo aquele mundaréu de homens, mulheres, crianças, de todos os tipos, de todas as cores, de todos os trajes - todos dançando e cantando, pulando, saracoteando, jogando confetes e serpentinas que chegavam literalmente a entupir a rua e se enroscar nas rodas dos carros... E os lança-perfumes, que que é isso, minha gente! E os "cordões", os "ranchos", os "blocos de sujos" - e todo o mundo se comunicando, como se fossem velhos conhecidos, se tocando, brincando, flertando - era assim que se chamavam os namoricas fortuitos, a paquera da época -, tudo numa liberdade e descontração incríveis, especialmente para aqueles tempos tão recatados e comportados... Tanto que, ainda vários anos depois, uma marchinha carnavalesca falava, na sua letra alegremente escandalizada, da "moreninha querida... que anda sem meia em plena avenida".

Ah, as marchinhas, as modinhas, as músicas de carnaval, maliciosas, buliçosas e engraçadas, algumas até com ferinas críticas políticas... E os ritmos, e os instrumentos - violões, cuícas (coisa nunca vista!), tamborins, reco-recos...

E finalmente, coroando tudo, as escolas de samba, e o desfile feérico dos enormes carros alegóricos das sociedades carnavalescas - coisa absolutamente inédita para nós - com seus nomes esquisitos, "fenianos", "Tenentes do Diabo" - cada qual mais imponente, mais fantástico, mais brilhante, mais deslumbrante, mais mirabolante - e, para mim, nada menos que acachapante!

E pensar que a gente não compreendia nem metade do que estava acontecendo! Todo aquele alarido, todas aquelas luzes, toda aquela agitação, toda aquela alegria desenfreada - tudo isso nos deixou literalmente embriagados e tontos de impressões e sensações, tão novas e tão fortes que nunca mais esqueci aqueles dias delirantes. Vi muitos carnavais depois daquele, participei mesmo de vários, e curti-os muito. Mas nada, nunca mais, se comparou com aquele primeiro carnaval no Rio de Janeiro, um banho de Brasil, inesquecível...



Tatiana Belinky. Transplante de menina. 3ª ed. São Paulo, Moderna, 2003, pp. 101-103.

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Memórias Literárias... textos recomendados

Parecida mas diferente


Zélia Gattai

O pai de Zélia Gattai costumava contar a história de como sua família havia vindo da Itália para o Brasil. Uma vez, quando ele narrava a viagem dos Gattai que era o nome da família de seu pai -, Zélia, então menina, observou que Eugênio, seu avô materno, escutava atentamente. Então, pediu a ele que também contasse a história da família da mãe, os Da Col.



Vovô veio da Itália com toda a família, contratado como colono para colher café numa fazenda em Cândido Mata, em São Paulo. Nona Pina passou a viagem toda rezando, pedindo a Deus que permitisse chegarem com vida em terra. Tinha verdadeiro pavor de que um dos seus pudesse morrer em alto-mar e fosse atirado aos peixes. Carolina ressentiu-se muito da viagem, estranhou a alimentação pesada do navio, adoeceu, mas desembarcaram todos vivos no porto de Santos.

A família fora contratada por intermédio de compatriotas do Cadore, chegados antes ao Brasil. Diziam viver satisfeitos aqui e entusiasmavam os de lá através de cartas tentadoras: "Venham! O Brasil é a terra do futuro, a terra da 'cucagna'... pagam bom dinheiro aos colonos, facilitam a viagem..."

Com os Da Col, no mesmo navio, viajaram outras famílias da região, todos na mesma esperança de vida melhor nesse país promissor. Viajaram já contratados, a subsistência garantida.

Em Santos, eram aguardados por gente da fazenda, para a qual foram transportados, comprimidos como gado num vagão de carga.

Ao chegar à fazenda, Eugênio Da Col deu-se conta, em seguida, de que não existia ali aquela "cucagna", aquela fartura tão propalada. Tudo que ele idealizara não passava de fantasia; as informações recebidas não correspondiam à realidade: o que havia, isto sim, era trabalho árduo e estafante, começando antes do nascer do sol; homens e crianças cumpriam o mesmo horário de serviço. Colhiam café debaixo de sol ardente, os três filhos mais velhos os acompanhando, sob a vigilância de um capataz odioso. Vivendo em condições precárias, ganhavam o suficiente para não morrer de fome.

A escravidão já fora abolida no Brasil, havia tempos, mas nas fazendas de café seu ranço perdurava.

Notificados, certa vez, de que deviam reunir-se, à hora do almoço, para não perder tempo de trabalho, junto a uma frondosa árvore, ao chegar ao local marcado para o encontro os colonos se depararam com um quadro deprimente: um trabalhador negro amarrado à árvore. A princípio, Eugênio Da Col não entendeu nada do que estava acontecendo, nem do que ia acontecer, até divisar o capataz que vinha se chegando, chicote na mão. Seria possível, uma coisa daquelas? Tinham sido convocados, então, para assistir ao espancamento do homem? Não houve explicações. Para quê? Estava claro: os novatos deviam aprender como se comportar; quem não andasse na linha, não obedecesse cegamente ao capataz, receberia a mesma recompensa que o negro ia receber. Um exemplo para não ser esquecido.

O negro amarrado, suando, esperava a punição que não devia tardar; todos o fitavam, calados.

De repente, o capataz levantou o braço, a larga tira de couro no ar, pronta para o castigo. Então era aquilo mesmo? Revoltado, cego de indignação, o jovem colono Eugênio Da Col não resistiu; não seria ele quem presenciaria impassível ato tão covarde e selvagem.

Impossível conter-se!

Com um rápido salto, atirou-se sobre o carrasco, arrebatando-lhe o látego das mãos.

Apanhado de surpresa, diante da ousadia do italiano, perplexo, o capataz acovardou-se.

O chicote, sua arma, sua defesa a garantir-lhe a valentia, estava em poder do"carcamano"; valeria a pena reagir? Revoltado, fora de si, esbravejando contra o capataz em seu dialeto dos Montes Dolomitas, o rebelde pedia aos companheiros que se unissem para defender o negro. Todos o miravam calados. Será que não compreendiam suas palavras, seus gestos? Certamente sim, mas ninguém se atrevia a tomar uma atitude frontal de revolta. Católico convicto, ele fazia o que lhe ditava o coração, o que lhe aconselhavam os princípios cristãos...

De repente, como num passe de mágica, o negro viu-se livre das cordas que o prendiam à árvore. O capataz apavorou-se. Quem teria desatado os nós. Quem teria?

O topetudo não fora, estava ali em sua frente, gesticulando, gritando frases incompreensíveis, ameaçador, de chicote em punho... O melhor era desaparecer o quanto antes, rapidamente: "esses brutos poderiam reagir contra ele. A prudência mandava não facilitar".

Nessa mesma tarde, a família Da Col foi posta na estrada, porteira tranca da para "esses rebeldes imundos". Estavam despedidos. Nem pagaram o que lhes deviam. "Precisavam ressarcir-se do custo do transporte de Santos até a fazenda..." E fim.

Pela estrada deserta e infinita, seguiu a família, levando as trouxas de roupas e alguns pertences que puderam carregar, além da honradez, da coragem e da fé em Deus.



Zélia Gattai. Anarquistas graças a Deus. 11 ª ed. Rio de Janeiro, Record, 1986, pp. 160-162.