Plantando
a Mãe Terra no peito... Tum-tum
Por
Ana Kelly Brustolin
Tum-tum! Cof-cof!
Booom! Chuá-chuá...
O
assunto meio ambiente urge reflexão, nos chamando à conscientização sobre as
graves violações provocadas pelo ser humano que explora mal os bens desta Mãe
Terra, cultivando maus hábitos e negando as sábias tradições de povos
originários.
Em
um mundo tão conturbado, muito se fala a respeito do tal “equilíbrio” – em
todos os setores –, mas a busca pelo equilíbrio vai além da harmonia entre os
seres humanos, haja vista que compreende a relação fraterna entre estes e a
natureza, bem como entre estes e o mundo espiritual, os demais seres
sencientes, as diferentes culturas e identidades, os largos conhecimentos e
sabedorias pulsantes e existentes. Precisamos (re)aprender a nos colocar no
lugar do outro e apreciar a valorização da diversidade e da equidade no lugar
da mera igualdade formal.
Celebrar
a vida é direito de todos! Atentemo-nos, portanto, aos pequenos atos: nossos e
dos outros (que se dedicam a cuidar do ambiente nos lugares onde vivem),
fazendo florescer generosidade e gentileza pelo verde e colorido percurso,
protegendo a vida em curso.
É
necessário distinguirmos “o Bem Viver e o bem-estar social”. Lemos em Ailton
Krenak (2020), liderança indígena e imortal da Academia Brasileira de Letras, que
o conceito de bem-estar está intrinsicamente ligado à sociedade de
consumo, que trata a natureza como algo suscetível à exploração, capaz de
fornecer recursos infinitos e ilimitados, enquanto estabelece a superioridade
da espécie humana e não reconhece a nossa interligação e a interconexão com ela
e os demais seres. Todavia, as causas das agressões ao meio ambiente relacionam-se
aos pilares culturais, políticos e econômicos, que demandam amálgama de valores
para um desenvolvimento ético, responsável e sustentável. O que estamos fazendo
atualmente para resguardar a natureza?
Sabemos
que educar e investir no ser humano consciente e responsável, pode ser um bom
caminho para seguirmos agindo, além de caber às autoridades e à sociedade a
responsabilidade e o compromisso com a vida e o efetivo exercício cidadão.
Aliás,
uma bela canção para mostrar às crianças (em casa e na escola) trata-se de
“Passaredo”, de Chico Buarque – que já fez parte da trilha sonora de “Sítio do
Picapau Amarelo”, na década de 1970. Além de voar, os pássaros são conhecidos por
seu cantarolar, e Chico Buarque parece ter retribuído os belos cantos dos
pássaros à altura, em “Passaredo”, pois é uma bela canção e homenagem aos
pássaros do Brasil, visto que cita uma lista imensa deles. Você é conhecedor do
assunto? Se sim, ou não, acompanhe um trecho: “Ei, pintassilgo, oi, pintarroxo,
melro, uirapuru, ai, chega-e-vira, engole-vento, saíra, inhambu, tordo, tuju, tuim...”
Ah,
importante mencionar que a canção ainda apresenta a nossa “má fama” e impacto
negativo entre estes seres. Em certo momento da letra, há um diálogo entre os
pássaros: “Bico calado! Toma cuidado, que o homem vem aí, o homem vem aí...”
Guilherme
Arantes também traz em sua canção, “Planeta Água”, um verdadeiro manifesto pela
preservação da água, recurso tão basilar para a vida e que representa mais de
70% da superfície do nosso planeta e da composição de nossos corpos. Não à toa
o refrão alude: “Terra, planeta água!”. Destaco o trecho: “Águas escuras dos
rios, que levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a
sede da população.” Contudo, infelizmente, é um recurso tão maltratado pelo estilo
de vida que temos adotado, seres humanos de míopes interesses
econômicos.
Luiz
Gonzaga, um dos maiores expoentes da cultura nordestina brasileira, também se
preocupava com as questões ecológicas. Em “Xote Ecológico”, compôs em parceria
com Aguinaldo Batista, e o nosso rei do Baião cantou: “Cadê a flor que estava
aqui? Poluição comeu. E o peixe que é do mar? Poluição comeu. E o verde onde é
que está? Poluição comeu. Nem o Chico Mendes sobreviveu.”
Assim
sendo, vemos que o “progresso” e a “modernidade” conectam-se à cultura e à
razão, enquanto o tradicionalismo e os saberes ancestrais à natureza e à sensibilidade,
o que talvez justifique o modo de serem vistos como atrasados e inferiores. Mas
caberia uma tentativa de equilíbrio entre esses para preservarmos a vida.
Neste
ano de 2025, motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de
São Francisco de Assis, e entre outros motivos; o tema escolhido para a
Campanha da Fraternidade (CF) foi: Fraternidade e Ecologia Integral e
o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). De
acordo com o “Objetivo Geral da CF 2025”, este ano a temática ambiental retorna
com o intuito de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise
socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e
da Terra”.
Nessa
vereda, boa vontade e elaboração de políticas públicas justas, com gestões
éticas integradoras são essenciais, assim como as ações dos governos necessitam
ser mais eficazes, contemplando: fiscalizações severas, aplicação de recursos
em saneamento básico, controle do uso do solo, manutenção dos recursos
essenciais de modo sustentável, conhecimento e educação ambiental.
Pois
bem, não há planeta reserva! Só este: Planeta Terra. E, acreditem, apesar de ele
viver sem nós, nós não vivemos sem ele. O tempo é hoje; agora. Carecemos de uma
urgente conversão ecológica, ou seja, passar da lógica extrativista, que
contempla a Terra como um reservatório de recursos infinitos – onde se permite
retirar tudo o que, como e quanto quiser – para uma lógica do cuidado e
da responsabilidade, que enxerga, sente e compreende a Terra, de fato, com
o respeito que ela merece, um reservatório de recursos finitos, como já mencionaram
diversas referências, entre elas, Pablo Sólon, na obra “Alternativas sistêmicas”,
em 2019.
Nesse
ínterim, precisamos nos entender e enxergar como parte da natureza, da Mãe
Terra (Pachamama), e não como um mero ente que está fora dela, em posição
de superioridade. Nessa visão, as mudanças são sempre cíclicas, nunca lineares,
e nós mudamos de dentro e em sintonia com a nossa comunidade e com o Planeta. Portanto,
caminhemos em direção a este entendimento.
Tum-tum,
quá-quá, ahn ahn ahn, glub glub, cocóricó, bem-te-vi, quero-quero, coró-coró,
tum-tum...
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