15 de ago. de 2018

Os diversos modos de se dirigir ao interlocutor é um fenômeno que atrai a atenção dos pesquisadores de línguas. No português, por exemplo, a variação entre as formas de tratamento “tu” e “você” (motivada, a princípio, pelo aspecto regional) é demasiadamente estudada é analisada pelos estudos sociolinguísticos.
A variação nestas formas de tratamento (2a. pessoa do singular) não é somente uma questão sincrônica, que depende de fatores geográficos, estilísticos e/ou sociais; mas também uma questão diacrônica.
O sistema pronominal do português do Brasil (PB) apresenta as duas formas de se referir à segunda pessoa: “tu” e “você”. A partir de uma contextualização histórica, Faraco (1996) discutiu as formas de tratamento de segunda pessoa no português, mostrando fatores internos e externos que condicionaram a evolução do sistema pronominal do português. O autor concluiu que, no português atual, “‘você’ é o pronome de uso comum para tratamento íntimo, estando o pronome ‘tu’ restrito a algumas variedades regionais” (FARACO, 1996, p. 64).
Menon (2000; 2002) também discutiu a variação geográfica na utilização desses tratamentos (tu/você), e notou que a mudança no sistema pronominal desencadeou até mesmo a variação/mudança no sistema verbal. A autora afirmou que a forma “tu”, em algumas regiões do sul do Brasil, costuma acompanhar a forma verbal não-marcada (exemplo, “tu chegOU” e não “tu chegASTE”), confirmando a hipótese de que, no PB, as desinências verbais não se mantêm bem definidas, em especial na língua falada.

E você? Fala como?
E tu? Fala(s) como?


Referências:

FARACO, Carlos Alberto. O tratamento você em português: uma abordagem histórica. In: Fragmenta, n. 13. Curitiba: Editora da UFPR, 1996.

MENON, Odete P. Da Silva. Pronome de segunda pessoa no Sul do Brasil: tu/você/o senhor em Vinhas da Ira. In: Letras de hoje. V. 35, n. 1. Porto Alegre, 2000.

MENON, Odete P. Da Silva; LOREGIAN-PENKAL, Loremi. Variação no indivíduo e na comunidade: tu/você no Sul do Brasil. In: VANDRESEN, P. (org.). Variação e mudança no português falado na Região Sul. Pelotas: Educat, 2002.

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